segunda-feira, 21 de junho de 2010

Meu diário.

Através dos estudos já desenvolvidos, trabalhamos em um novo tema: “Eu preciso me comunicar!”
O diretor do processo, Paco Abreu, propôs a pesquisa para uma nova criação que seria um diálogo entre o nosso diário individual e o universo dos diaristas em situação de guerra. O princípio para a busca: o que é fundamental dizer e para quem. Um espaço para não deixarmos silenciar a nossa própria voz!

Os estudos foram apresentados e posteriormente sintetizados. Assistindo a sequência das cenas, foi elaborada uma síntese objetiva e outra poética que nos trouxe com fidelidade a energia ali contida.



“Todos de pé, imóveis. E a energia, quase visível, quase concreta, alcançava cada parte daquele todo, fazendo-o completo. O corpo inteiro diz com pressa a dor de toda uma vida. Qual escudo preservar-me-ia de tomá-la como minha? A dor também me pertence. Tomo ainda o sorriso e a compulsão. Guardo para nós...
Submerso, grita tão alto o som distorcido, grita tão alto o que o faz tirar a vida com as próprias mãos.
Onde está agora, toda aquela raiva que fora projetada para amanhã? Há tempos fora guardada. Talvez se reverta em alta força, talvez suas consequências ultrapassem suas razões, talvez jamais saibamos como dominá-la.

O que faço com tudo que recolho de mim? O que faço quando me dôo e em seguida, recupero?
Persisto como testemunha. Provo com recortes de lembranças e em parte cortes de minha vida.
As folhas...
Levam-nas ao corpo e as esfregam umas nas outras e que delas algo fique, e que das outras, algo fique, e que em contato, possa haver o que ficar.
Responsáveis por enriquecer o cotidiano são apenas as exceções? Relógio, calendário, controle, tempo. Quem sabe a nostalgia pelo hoje é a fuga mais prazerosa.
"Faz-me falta" Disse ela.

Diversos papéis. Livros, cadernos, escritos. "Não pode parar de lutar, não pode". E com insistência, repete e bate no chão. Um resquício de insanidade, e ao mesmo tempo, a ciência do sonhador. "Deixe ele viver" cantarolando... baixinho...
Novamente diversos papéis
Mas aqui, jogados fora. De cima, cai um balão de ar e brinca de leve com as mãos da menina. Ela o conduz com a mesma leveza ao balde cheio d'água, e a afoga como depois afoga a si.
De que adianta limpar rastros de rejeição? A que recorrer para suprir a falta que este faz? Transforma-se em alvo, rende-se não só a todos, mas também à própria compulsão. Come e bebe. Por fim, desiste.
Luz apagada, limitada apenas à que é proveniente do dia e de uma pequena lanterna. Desvendar o corpo com o pequeno feixe, o corpo nu. Pancadas e tinta preta, marcas.
Ordem e disciplina revertidos em arma. cobriu o rosto e enforcou-se. Se tampouco há ordem, será errado impor que assim o seja. Dessa forma, de que modo deve ser?
O último som que me lembro, foi a daquela canção. As últimas cores, o branco e o vermelho. Nada continua.
Não... Não. Tudo tem que recomeçar.”
– Deborah Nosek

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